Editorial JORNAL DO COMÉRCIO, 23/03/2012
O que dizer para uma cidade que está completando 240 anos? Tudo o que nossos antepassados sabiam. Em 26 de março de 1772 aqui chegaram 60 casais açorianos. Parte desses casais se fixou no Porto de Viamão, depois freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, Porto de Viamão, Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre e, em julho de 1773, quando era governador José Marcelino de Figueiredo, recebeu o nome de Porto Alegre. Somos modernos, mas não esquecemos o passado. Pelo contrário, o cultivamos. Tivemos fases de agitação, de ebulição política, de movimentos revolucionários, festas imponentes como a Exposição do Centenário Farroupilha, em 1935, e cujo grande legado foi o Parque Farroupilha, a querida Redenção. Ser porto-alegrense deveria ser sinônimo de felicidade. Afinal, a felicidade não depende do que acontece ao nosso redor, senão do que acontece dentro de nós mesmos. Nesta cidade, a felicidade é medida pelo espírito com que enfrentamos as dificuldades da vida. É que a felicidade é um estado de ânimo, pois não somos felizes até que decidamos sê-lo. Em Porto Alegre, a felicidade não consiste em fazer sempre o que queremos, senão a querer tudo o que fizemos, com alegria e entusiasmo. Os porto-alegrenses não têm uma receita única para serem felizes, pois felicidade não tem receitas. Cada um de nós a cozinha com o tempero de sua preferência. Em cada bairro, em cada rua, em cada caminhada e sempre com o pôr do sol mais lindo do mundo.
No entanto, o que diriam nossos pioneiros do final do século XIX e início do século XX se pudessem revisitar o povoado, a freguesia, a vila e a hoje cidade de Porto Alegre? No aspecto visual teriam, provavelmente, dois sentimentos antagônicos. Primeiro, não acreditariam que aquele acampamento à beira do rio hoje é uma grande cidade.
Não entenderiam os altos edifícios, a correria dos veículos, a pressa das pessoas, o barulho e o tipo de vida absolutamente diferente do bucolismo que se acostumaram. Ficariam estupefatos com a grandeza e o número de habitantes. Simultaneamente, criticariam o mau aspecto e a falta de cuidados quando os porto-alegrenses sujam as ruas. Pichações em prédios públicos e particulares com manuscritos grotescos onde o que importa é emporcalhar sem qualquer sentido.
Nossos avós e bisavós viveram em uma cidade onde o Centro encantava os jovens dos anos de 1930 a 1970 onde todos iam para verem e serem vistos. Tudo passa na vida, mas existe apenas o presente e que, por isso mesmo, se chama presente, afirmam alguns. Mas o presente de hoje será passado amanhã e antecederá o futuro do outro dia. Cidade com 1,4 milhão de habitantes, 700 mil veículos, com muitos espaços vazios e sempre progredindo. Porto Alegre, apesar de alguns problemas, é demais. Acabamos nos apaixonando por ela. Com tantos encantos na zona Sul, na zona Norte, no Centro, no Mercado Público, na Volta do Gasômetro, na Cidade Baixa, na Azenha, Menino Deus, Partenon, Glória e Teresópolis, na querida mas tão maltratada avenida Borges de Medeiros, no Alto da Bronze, no entorno das praças da Alfândega e da Matriz. Uma cidade que depende de seus cidadãos para ser ainda melhor, mais bonita, acolhedora e tranquila, sem tanta violência. Que possamos caminhar despreocupados olhando vitrines, indo a cinemas, jantando fora, visitando amigos. Que não sejamos obrigados a ficar vigiando para todos os lados com medo do perigo à espreita. Nossos filhos e netos merecem, daqui a 20, 30 ou 40 anos, dizer que a Porto Alegre em que estarão vivendo é tão boa quanto falavam seus pais e avós. Depende só de nós.
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